terça-feira, 9 de setembro de 2008

Memória Paulistana: o palacete eclético que abrigou a vanguarda modernista de São Paulo.

Há exatos 110 anos, um requintado jantar à la carte foi oferecido por Olívia Guedes Penteado, casada com seu primo Inácio, inaugurava a nova e refinada residência do casal situada na rua Duque de Caxias (atual avenida), esquina com Conselheiro Nébias, no elegante bairro de Campos Elíseos. (à esquerda: Palacete Olívia Guedes Penteado - fonte: www.leonardokurcis.com.br/apresenta_jun_nostalgia_memorias_de_uma_grande_cidade.ppt)
Eclético, cujas linhas basearam-se no Risorgimento italiano, o palacete foi projetado por Ramos de Azevedo. Nas obras que se iniciaram em 1895, foram empregados materiais importados, especialmente da Itália, de onde também trouxeram a austera cúpula que arrematava o corpo semi-hexagonal voltado para a confluência das citadas ruas. Segundo a historiadora Dra. Maria Cecília Naclério Homem, Yan de Almeida Prado comparava-o ao Palácio Pallavicini de Gênova, pois fora construído no alinhamento das vias; ou seja, sem jardins fronteiriços.
Descendente de ricos cafeicultores - filha dos Barões de Pirapitingui – Dna. Olívia recebia convidados às terças-feiras em saraus em que tocava harpa. Após o falecimento de seu marido, em 1913, Dna Olívia também dá início a recepções em sua residência de Paris, onde recebia brasileiros, artistas, intelectuais e diplomatas franceses. (à direita: Retrato de Dna. Olívia Guedes Pentado - fonte: www.museuvillalobos.org.br/.../foto_09.htm)
Dez anos depois, ainda na capital francesa, interessar-se-ia pelas vanguardas artísticas européias e tomaria contato com parte do grupo de modernistas brasileiros: Oswald de Andrade, Paulo Prado e Tarsila do Amaral. Por intermédio destes, freqüentaria os ateliês de artistas renomados como Picasso, Brancusi e Lèger. Nesse período, adquire a obra Mise au Tombeau (Sepultamento) de Victor Brecheret, premiada no Salão de Outono de Paris (1923). Atualmente, a peça encontra-se sobre o seu túmulo no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
Naquela época, num de seus retornos a São Paulo inauguraria um pavilhão modernista, nas dependências da antiga cocheira do palacete da Conselheiro Nébias, especialmente preparada por Warchavchik e Lasar Segall para abrigar obras modernas adquiridas na Europa (notadamente um quadro de Léger) e que não se coadunavam em relação à sisuda decoração do restante da residência. Nesse local, Dna Olívia promoveria as famosas reuniões freqüentadas pela plêiade de intelectuais e artistas modernistas – destacando-se a presenças de Villa-Lobos, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida, entre outros.
O palacete, no entanto, foi demolido na década de 1940 em virtude da ampliação da av. Duque de Caxias, promovida prefeito Prestes Maia. Por volta do ano do IVo. Centenário da Cidade de São Paulo, no terreno remanescente ergueria-se o portentoso edifício do Hotel Comodoro, um dos marcos da verticalização da metrópole paulistana. (à esquerda - Hotel Comodoro - fonte: www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=311796)


Referência bibliográfica:
HOMEM, Maria Cecília Naclério. O palacete paulistano e outra formas de morar da elite
Cafeeira: 1867-1918
. São Paulo: Martins Fontes, 1996.


Sergio De Simone
Arquiteto
ago/ set2008